terça-feira, 30 de outubro de 2007

Existem histórias macabras, inimagináveis sobre pedreiras na Arrábida e sobre aquilo que os seus proprietários fizeram e fazem para se instalarem...
Imaginam que vou começar pela da Secil, a mais conhecida e vista por todos..também há muitas histórias sobre essa, que envolve a destruição de grutas, o suborno de um antigo membro da Quercus, acções de marketing para limpar a imagem e muita, muita exportação do nosso cimento para os países da UE que há muito deixaram de ter este tipo de pedreiras tão destrutivas...mas vou vos falar de pedreiras ainda mais destrutivas e de crescimento mais rápido e disseminado pela Cadeia da Arrábida e todo o País, as pedreiras de brita.
Como sabemos a brita é um material que serve para ser escondido, isto é, é incorporado em cimento, preenche caixas de auto-estradas, pavimentos, etc. Países da UE, muito à frente de nós, reciclam entulhos de demolição, crivam-nos e trituram-nos, para exactamente a mesma função que a brita. Mas nós estamos a anos de luz...continuamos na idade da pedra! Os materiais que usamos nas construções das casas, pavimentos, são quase todos derivados do cimento e... da pedra - o calcário. Fica mais barato explodir uma serra com dinamite do que reciclar entulhos! Um técnico da Lobbe disse-me uma vez que têm máquinas para crivar e tritural, mas não há clientes para esse tipo de mercado!
Na Alemanha, abunda o calcário, principalmente junto à Suissa, mas as casas são de ferro e madeira, materiais recicláveis e que não danificam o relevo irreversivelmente. Eles têm a floresta negra que lhes dá madeira para construção, reparem, para construção! Não para papel... Essa indústria deixam para nós, através dos subsídios para "árvores de crescimento lento", onde no fim da lista vigora o Eucalipto (!!!) É uma indústria das mais poluentes e de maiores riscos de incêndios.
Esses países, ditos desenvolvidos, são mas é sábios, para além de deldegarem o problema para os outros países, só usam o betão para fundações e coisas pontuais. Há um respeito pelo betão , pois é um bem precioso e caro, só usado em último recurso. A estrutura é em vigas de aço, material reutilizável. Os holandeses, que de todo não têm calcário têm que o importar, e até têm um monumento ao betão com vários tipos dele...nós ? esbanjamo-lo. Mas porquê?...

Porque embora tenhamos muito pouco calcário em Portugal: Estremadura e Algarve, o nosso IGM licencia muitas, demaseadas pedreiras... e continua... depois da Arrábida não ter mais por onde abrir, a Serra dos Candeeiros e Sícó é crescente em pedreiras.
Com a "desculpa" que "temos de dar dinheiro aquela gente".
Mas serão mesmo "eles" os beneficiados? Ou só alguns?
Até agora viveram de quê? Dantes não havia pedreiras! Quanto muitos apenas algumas de calçada, as menos destrutivas, de carácter artesanal e as mais fáceis de recuperar dada a sua pequena dimensão.
A política agrícola do nosso país é inversamente proporcional à política do eucalipto. Os campos estão progressivamente abandonados e a "invasora australiana" é crescente. E o Eucalipto não dá, pois nos calcários não há água à superfície e os incêndios na mesma zona são quase bi-anuais, não deixando que uma árvore se desenvolva. Esta monocultura faz com que as pessoas abandonem as terras, implicam um despovoamento e a descaracterização das paisagens, pois só lá têm de ir no início e fim da exploração praticamente. Não é uma árvore mediterrânea, como o nosso sobreiro que resiste ao fogo e regenera.
A oliveira que ainda subsiste alguma na Serra de Aire e candeeiros, tem uma produção anual que vai dando para as povoações sobreviverem e dantes não havia tantos incêndios na Serra. A agricultura pode dar mais de uma produções por ano, gerando riqueza.
Nunca se perguntaram porque a Espanha não tem eucaliptos? Bom, mas eles também exageram na agricultura, o que é certo é que invadem os nossos mercados e a riqueza que geram vai para onde? Aqui não fica!...Nós temos o piorzinho, aquilo que a UE não quer e delega para os países do "3º mundo", que começam por c:
- cimento e celulose.
Agora, voltando às pedreiras, deixo-vos uma pergunta...quanto custa uma tonelada de brita numa pedreira da Arrábida? (Depois conto-vos as histórias macabras...)
A Arrábida é o resultado do erguer do calcário que está por baixo de nós. Nela ele resplandece à superfície. A estrutura óssea da arrábida é o calcário branco, imaculado. À superfície ele altera-se em terra rossa, a carne da serra, que dá vida à vegetação verde que a reveste e protege. O sangue é a água. A água das chuvas que se infiltra. esta água já ligeiramente acidificada na atmosfera rica em CO2, ao penetrar no solo ainda é mais enriquecida por este gás que a transforma num ácido ligeiro, o carbónico. Este por sua vez infiltra-se nas pequenas fissuras do calcário, dissolve-o e pode formar grutas imponentes. Quando a água fica saturada em carbonato de cálcio atinge o revez do ponto do equilíbrio e começa a precipitá-lo e aí vemos as belas concreções das grutas que só a Arrábida nos sabe brindar...o exemplo mais belo recentemente descoberto é a Gruta do Frade...magnífica! Mas a Arrábida tem os seu problemas, para além da crescente ocupação urbana, o maior problema são os câncros que a assolam...as pedreiras e são muitas e grandes, avassaladoras, destrutivas e definitivas...